O cérebro humano, assim como o de outros animais, está condicionado à reagir à diversas situações.
Todos os reflexos humanos são involuntários, não aprendidos e totalmente previsíveis, segundo estudos científicos. Nosso corpo busca se defender naturalmente de ameaças impostas pelo ambiente em que vivemos. É por causa do nosso reflexo que temos a capacidade de desviar de um obstáculo na estrada ou até mesmo de recolhermos a mão ao perceber que ela está em contato com fogo, por exemplo.
Funciona mais ou menos assim: sempre que há algum estímulo de alguma espécie, o nosso nervo raquidiano (localizado na medula espinhal) transmite a mensagem dos centros nervosos para os órgãos e vice-versa.
Na medula ou no encéfalo, neurônios associativos (centro nervoso ou coordenador) transformam o estímulo em uma ordem de ação. Essa ordem sairá da medula pela raiz nervosa ventral e será enviada através das fibras motoras (ou eferentes) ao órgão (glândula ou músculo) que realizará uma resposta ao estímulo inicial. Esse movimento forma um “arco”, que é chamado de arco reflexo.
A ação ou ato reflexo, portanto é “comandado” pela substância cinzenta (núcleos ou conjunto de corpos neuronais) do sistema nervoso. Partindo da substância cinzenta (da medula, córtex, gânglios da base, etc.) a ordem neuro-efetora atinge a substância branca da medula, passa para os nervos raquidianos, que atinge o órgão, determinando sua reação. Há reflexos que são comandados pela substância cinzenta da medula e são realizados antes que, como visto, o cérebro (ou a consciência) tome conhecimentos deles.
Isso tudo acontece em poucos segundos e pode significar a diferença entre ter uma mão queimada ou não.
Ato reflexo patelar. Nesse caso, o arco reflexo é simples, pois participam apenas o neurônio sensitivo e o neurônio motor. Fonte Coladaweb
Quando falamos dos relacionamentos entre pessoas muitas vezes reagimos igualzinho quando alguém bate um martelo no nosso joelho. Quase que instantaneamente à martelada, em poucos segundos nosso músculo reage e o nosso corpo se movimenta e pode ser até que a gente solte um grito de “Ai meu joelho”.
Da mesma forma, quando alguém grita conosco, fala com sarcasmo ou nos deixa irritados, o nosso reflexo instintivo é devolver aquele tipo de tratamento “na mesma moeda”. É tão rápido que quase não percebemos quando a nossa boca solta aquelas palavras que, em uma situação ‘normal’, jamais falaríamos.
Os resultados de reagirmos por meio da fala e do comportamento de forma “automática” e sem pensar geralmente são catastróficos. Além de não sermos compreendidos, passamos a ser odiados, evitados ou até mesmo sabotados pelo outro. E esse é um ciclo que se não for impedido a tempo, pode se tornar irreversível.
Diferença entre reação e resposta
O primeiro passo para conseguirmos quebrar o ciclo vicioso da ação automática e inconsciente de reagir a um estímulo é entender a diferença entre reagir e responder.
Se a reação é uma ação automática a uma situação, a resposta é uma ação pensada e construída de como você vai lidar com aquele momento. Ao contrário da reação, a resposta exige que você pare e reflita (mesmo que isso aconteça de forma rápida), antes de falar ou agir sobre o que aconteceu com você.
Portanto, responder é o ato consciente de decidir a sua ação, antes que ela seja de fato concretizada. Durante este rápido período de tempo você tem a oportunidade de formular um segundo pensamento e depois avaliar os prós e os contras de cada opção de resposta.
Somente depois de formar a melhor opção na sua mente é que você vai abrir a boca para falar ou tomar a atitude em si. Segundo o psiquiatra austríaco Viktor Frankl entre o estímulo e a resposta há um espaço. E neste espaço está nosso poder de escolher nossa resposta.
Da martelada ao feedback construtivo no trabalho
No ambiente corporativo esse tipo de controle à nossa reação instintiva pode ser ainda mais difícil. Uma pesquisa da Isma-BR apontou que 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela causada pelo estresse. A triste notícia é que estudos também apontam que o Brasil é o segundo país do mundo com maior índice de estresse no trabalho.
Entre as causas desse estresse, a pesquisa cita a competitividade exagerada, a pressão excessiva, metas inalcançáveis e a sobrecarga no trabalho como algumas fontes possíveis.
Diante de todas essas dificuldades, será que dá para amenizar as reações que temos diante de uma situação de alto estresse e cobrança por resultados ou até mesmo quando um colega ou superior testa o limite da nossa paciência?
Com certeza sim.
É claro que essa mudança não vai acontecer da noite para o dia. Ninguém acorda de repente e diante de uma discussão acalorada “sai” de seu próprio corpo, consegue simplesmente engolir um desaforo e controlar sua própria raiva tão facilmente.
Mas, assim como todos os comportamentos humanos podem ser modificamos com treino e determinação, a nossa capacidade de responder melhor essas situações pode ser aumentada.
Uma das primeiras técnicas que podemos aplicar à nossa rotina e que vai nos ajudar nessa missão é a de adotarmos a Comunicação Não-Violenta. A CNV, como é chamada pelos especialistas é a habilidade de ouvir mais e falar menos, literalmente. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia.
Por meio da CNV, passamos a ser mais observadores, entendemos melhor o contexto no qual a situação está inserida e por consequência escolhermos as palavras adequadas para esse contexto. O segredo é fazer essa observação sem criar um juízo de valor, apenas compreender o que se gosta e o que não no que está acontecendo e no que o outro faz.
Nomear os sentimentos nesse processo é importante para conseguir identificar o que está em jogo e com base nisso dar mais transparência ao diálogo, criando novos caminhos e saída que antes não podiam ser enxergados. Ao abrirmos o jogo, passamos a ser mais honestos com o outro e com a gente mesmo.
Leia: 10 formas de ter uma conversa melhor
Ao melhorarmos a nossa forma de nos comunicarmos com outras pessoas no ambiente de trabalho, naturalmente também iremos conquistar mais a confiança delas também. Isso nos torna líderes e liderados mais humanos, ao invés de colaboradores tóxicos.
Estudos mostram que a relações de confiança estabelecidas no trabalho geram equipes mais engajadas e de alta performance. É muito simples: quando você estabelece relações de confiança, consegue contar com as pessoas para que façam o que precisam fazer, sem precisar monitorá-las.
Leia: Confiança: o fator que faz a diferença na performance da sua equipe
Se aprender a se comunicar bem ajuda a criar relações de confiança, confiar é respeitar o outro e o pensamento dele, independente de qual seja. Isso é poderoso e quebra ciclos de comportamentos negativos e reativos. Nos ajuda a elevar o nível de nossas equipes, de nossas empresas e nos dá a chance de nos reconectar com os nossos melhores valores e propósitos.
Precisamos reagir menos e responder mais. Com consciência, tomando o tempo necessário para refletirmos e escolhermos a melhor resposta. E a melhor resposta sempre será aquela que nos dará o orgulho genuíno de enaltecer o outro e não a nós mesmos.