Você já teve a impressão de não conseguir ficar mais de 10 minutos assistindo aos jornais na TV?
Assaltos, acidentes, assassinatos, guerras e muitas outras notícias nos trazem essa sensação de que ‘só acontecem coisas ruins’ no mundo. Muita gente começa a desacreditar que a humanidade está evoluindo e chega até a se entregar ao pessimismo completo.
Mas será que estamos olhando para os dados certos ou enxergando apenas um ‘pedaço’ da realidade?
Um estudo feito nos Estados Unidos revelou que após os ataques terroristas às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 muitas pessoas que apenas assistiam às cenas já manifestavam sintomas de medo e tensão. O estudo também mostrou que quanto mais tempo essas pessoas ficavam expostas aos acontecimentos, mais os sintomas se agravavam.
Segundo Steven Pinker, psicólogo canadense e professor da Harvard, a percepção de que o mundo ‘piorou’ pode ser explicada pelo fato de que costumamos comparar os fatos ruins do presente com os fatos bons do passado.
Para ele é preciso colocar presente e passado lado a lado em uma comparação com os mesmos parâmetros. Veja abaixo:
O professor acredita que este ‘otimismo’ não é apenas uma questão de crença, mas sim uma hipótese que pode ser provada. “Índices relacionados à vida, saúde, sustento, prosperidade, paz, liberdade, segurança, conhecimento, lazer e felicidade. Tudo isso pode ser medido. Se estes números melhoraram com o tempo, dá pra reconhecer que isso é progresso”, explica o professor.
A expectativa de vida, ou seja, a média de anos que alguém vive é um índice muito importante, pois está relacionado à melhora nos tratamentos médicos, acesso à água tratada e esgoto, diminuição da mortalidade infantil, entre outros.
No Brasil, por exemplo, a expectativa de vida cresceu três meses e 11 dias de 2016 para 2017, chegando a 72 anos e cinco meses para os homens e 79 anos e quatro meses para as mulheres, segundo o IBGE. No Japão este índice era de 81,09 anos para os homens e 87,26 para as mulheres em 2018, números bem superiores se comparados ao período pós-guerra quando a média era de 50,06 anos para os homens e 53,96 para as mulheres.
A mortalidade infantil também diminuiu no mundo: há 250 anos, nos países mais ricos, um terço das crianças morria antes dos cinco anos. Hoje, esse risco caiu 100 vezes e a mortalidade atinge menos de 6% das crianças nos países mais pobres do mundo.
Curiosamente, no Brasil tivemos uma exceção que deixou todos chocados: pela 1ª vez desde 1990, o país apresentou alta na taxa de mortalidade infantil. Foram 14 mortes a cada mil nascidos em 2016; um aumento de 4,8% em relação a 2015, quando 13,3 mortes (a cada mil) foram registradas.
O Ministério da Saúde acredita que a alta mortalidade está relacionada aos casos do vírus zika (foram 315 mortes associadas ao zika desde 2015) e às mudanças socioeconômicas. Além disso, dados recentes mostraram que a vacinação em crianças, um importante fator para a redução do índice, atingiu o menor nível em 16 anos.
O que nos leva a pensar: o mundo pode ficar realmente pior quando não aprendemos com os erros do passado. Por muito tempo as vacinas foram o método mais efetivo e seguro de combate e erradicação de doenças infecciosas. Restringir o acesso dessas crianças à vacinação é equivalente a querer contestar os fatos científicos e os avanços da medicina e retroceder vários séculos.
O mais interessante é que esses mitos estão fortemente ligados à falta de informação qualificada, com base em dados concretos, como apontou Steven Pinker sobre o senso comum que temos de fazer comparações desproporcionais entre o passado e o presente.
Ele cita ainda outros dados como o da taxa anual de guerras que era de 22 por 100 mil ao ano (no início da década de 50) e caiu para 1,2 nos dias atuais. Até a probabilidade de morte diminuiu: ao longo do século passado, passamos a ter 96% menos chances de morrer em um acidente de carro, 88% menos chances de ser atropelados na calçada, 99% menos chances de morrer em um acidente de avião, 95% menos chances de morrer no trabalho, 89% menos chances de morrer por um desígnio de Deus, como uma seca, enchente, incêndio, tempestade, vulcão, deslizamento de terra, terremoto ou atingidos por um meteoro, descreve o professor.
Mesmo as horas de trabalho (no escritório e em casa) diminuíram ao longo dos anos. No século 19, os ocidentais trabalhavam mais de 60 horas por semana. Hoje, trabalham menos de 40. Graças à disseminação universal da água corrente e da eletricidade no mundo desenvolvido e da adoção extensa de lava-roupas, aspiradores de pó, geladeiras, lava-louças, fogões e microondas, a quantidade de vida desperdiçada no trabalho doméstico caiu de 60 horas por semana para menos de 15 horas por semana.
Mas se estamos realmente evoluindo como sociedade com melhoras significativas em saúde, riqueza, segurança, conhecimento e lazer, quer dizer que deveríamos ser mais felizes? Para o professor Pinker a resposta é sim.
Curiosamente, apesar de registrarmos o aumento da felicidade em 86% dos países, este índice não é refletido nos jornais e TV. Uma pesquisa com as palavras de emoções positivas e negativas nas reportagens mostra que, durante as décadas em que a humanidade se tornou mais saudável, mais rica, sábia, segura e feliz, o “The New York Times” se tornou cada vez mais mórbido e os noticiários mundiais mais melancólicos.
Por que as pessoas não apreciam o progresso? Segundo o professor, parte da resposta vem de nossa psicologia cognitiva. Nós estimamos os riscos usando um atalho mental chamado “heurística de disponibilidade”.
Quanto mais fácil for encontrar algo na memória, mais provável julgarmos que seja verdade. Junta-se a isso o fato de que o ‘valor-notícia’, ou seja, os fatos que merecem ser noticiados devem ser aqueles mais ‘impactantes’ e não os invisíveis.
‘Nunca vemos um jornalista dizer: “Estou transmitindo ao vivo de um país que está em paz há 40 anos”, ou uma cidade que não sofreu ataque terrorista. Além disso, coisas ruins podem ocorrer rapidamente, mas coisas boas não são construídas em um dia’, diz o professor.
A solução para fugirmos do ‘pessimismo indiscriminado’, ensina ele, seria encarar todas as conquistas da humanidade com esperança, sem medo de dizer que fomos bem-sucedidos.
‘O progresso é o resultado de esforços humanos governados por uma ideia; uma ideia que associamos ao Iluminismo do século 18 de que, se aplicarmos a razão e a ciência que melhoram o bem-estar do ser humano, podemos obter êxito gradualmente. O fato de haver progresso não significa que tudo fica melhor para todos, o tempo todo. Isso seria um milagre, e o progresso não é um milagre, é a resolução de problemas’, esclarece ele.
E o que é o nosso dia a dia senão a resolução de problemas, não é mesmo? Os problemas são inevitáveis e mesmo as soluções são capazes de gerar novos problemas que também precisam ser solucionados. E nós sempre vencemos (com criatividade) os desafios que nos são impostos. ‘Precisamos perseguir arduamente soluções, como a Descarbonização Profunda para as mudanças climáticas e o movimento Global Zero para a guerra nuclear’, disse.
O que seria do mundo se Tesla nunca tivesse estudado a eletricidade, se Einstein tivesse desistido da teoria da relatividade ou se o homem jamais tivesse inventado a roda?
Com certeza naquela época não faltavam empecilhos para fazê-los desistir. Mas, a partir de pequenos avanços nos movemos para frente. E este, segundo o professor Pinker, é o segredo para termos chegado até aqui.
“A partir de poucos oásis, crescem os territórios com paz e prosperidade e um dia podem abarcar o mundo. Ainda restam muito sofrimento e perigos enormes, mas foram enunciadas ideias sobre como reduzi-los, e ainda existem infinitas outras para serem concebidas. Nunca teremos um mundo perfeito e seria perigoso buscar um. Mas não há limite para as melhorias que podemos alcançar se continuarmos a aplicar o conhecimento para aprimorar o crescimento humano”, finalizou o professor.
E você? O que está fazendo para escapar do pessimismo hoje? Você acredita que é possível ser feliz e que você é o responsável por fazer isso acontecer?
Nós podemos te ajudar. Vamos juntos descobrir este caminho!
Assista à palestra de Steven Pinker: