Altos índices de produtividade, vendas online batendo recorde e enxugamento estratosférico de gastos nas empresas. Quem olha assim acha que o home office durante a pandemia só trouxe vantagens para a nossa sociedade. Será?
Infelizmente nos últimos meses, a síndrome de Burnout vem ganhando força principalmente entre os trabalhadores de serviços essenciais, funcionários em home office e profissionais da saúde.
Um estudo feito com mais de 3 mil profissionais de saúde no Brasil pela PEBMED (healthtech que provê ferramentas e conteúdo para médicos) mostrou que 79% dos médicos, 74% dos enfermeiros e 64% dos técnicos de enfermagem tiveram sinais de síndrome de Burnout no período da pandemia.
Do lado das empresas a satisfação dos brasileiros com o home office caiu de 71,3% em fevereiro, antes da pandemia, para 57% em março. Foi para 45% em junho, quando o trabalho remoto se tornou permanente, segundo levantamento da Orbit Data Science.
Nos meses seguintes, houve uma adaptação de muitos profissionais, mas o percentual dos insatisfeitos foi de 43% em outubro. Essa percepção foi capturada com uma análise de 5 mil comentários sobre o tema em três redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram) e portais de notícias. Entre as principais reclamações de quem está insatisfeito está a sobrecarga de trabalho (tema que já abordamos no artigo Porque você precisa fazer nada, principalmente se estiver trabalhando de casa, além da adaptação ruim (ocasionando dores nas costas e estresse), as distrações e saudades dos colegas.
Mas afinal, o home office total é ruim? Será que é melhor adotar o modelo híbrido (metade remoto, metade presencial)?
De certo não há uma resposta definitiva sem que haja uma pesquisa interna com os times para confirmar se os colaboradores se sentem melhor no modelo full time remoto ou se ficariam mais confortáveis com o modelo parcial.
Um levantamento feito pela Reuters, por exemplo, e publicado pela Folha, mostra que mais de 25 empresas americanas já cortaram o tamanho de seus escritórios no último ano.
Por outro lado, uma pesquisa feita no Brasil pela KPMG com 722 empresários indica que a maioria (56,9%) pretende manter o espaço ocupado atualmente – 4,2% inclusive pensam em aumentar. Entre os que pretendem reduzir, a maior parte fala em um encolhimento entre 16% e 30% da ocupação atual.
E há quem queira voltar em parte para o escritório e adotar o chamado modelo “híbrido”. Uma pesquisa do Instituto Gensler feita com mais de 2.300 trabalhadores americanos em 10 setores diferentes apontou que 70% dos funcionários prefere voltar ao local comum de trabalho em parte da semana do que manter o home office iniciado forçadamente em função da pandemia. Mas esperam um local de trabalho melhor do que aquele que deixaram. Apenas 12% dos entrevistados pelo instituto responderam que preferem manter seu trabalho em casa.
Como implementar o modelo híbrido de trabalho remoto
Várias empresas já estão se adaptando seus escritórios para oferecer o modelo híbrido. Para implementar o modelo híbrido de trabalho presencial parcial no escritório primeiro é preciso seguir as mesmas regras adotadas para a reabertura de comércios e outros estabelecimentos nas cidades. No caso de São Paulo, por exemplo, algumas dessas regras são:
* Cumprir o distanciamento social: 1,5 metro entre pessoas, demarcações e barreiras físicas, estímulo ao teletrabalho, grupos de risco sem trabalho presencial.
* Manter a higiene e sanitização do local: álcool gel, água e sabão, limpeza, máscaras, auxílio à testagem, medição de temperatura.
* Investir na comunicação: portais, e-mails, murais, cartazes, panfletos, cartilhas etc. para informar e orientar colaboradores e clientes sobre as medidas.
* Diminuir o horário de funcionamento: 4 horas de atendimento ao público, abertura e fechamento fora dos horários de pico de trânsito das 7h às 10h e das 17h às 20h, limitação de 20% do público.
Fonte: ConJur
A principal vantagem de adotar o modelo híbrido é a facilidade de manter a cultura de trabalho mais coesa e sustentável no longo prazo, além da diminuição das horas extras , reuniões desnecessárias e por consequência também reduzir os índices de esgotamento mental por excesso de trabalho.
“Se a empresa já tem processos estabelecidos, uma cultura consolidada, as coisas acontecem na inércia em um primeiro momento. Mas a partir de determinado ponto, há perda de qualidade”, afirma Maurício Russomanno, presidente da Unipar.
Algumas empresas como a Mercer, Evoltz e a Tecnisa, por exemplo, estão voltando aos poucos e de forma gradual. Uma boa opção, por exemplo, é criar uma escala determinando quais pessoas comparecerão ao escritório em determinados dias da semana. Ou até mesmo deixar livre para que o colaborador escolha quais dias deseja ir e quais não, é claro, obedecendo todas as regras sanitárias. Oferecer a chance de escolher qual é o melhor formato para sua equipe é uma ótima forma de preservar a individualidade de cada um, pois todos nós tivemos experiências completamente distintas durante o home office.
Precisamos repensar os espaços do escritório para que eles se tornem o mais acessível possível. Em outro artigo comentamos como a disposição e organização dos espaços físicos podem afetar a nossa saúde mental.
O que importa, sobretudo é que as pessoas se sintam acolhidas novamente e que os gestores estejam preparados para recebê-las de braços, ou pelo menos, de mente aberta. Precisamos estar preparados para a Transformação Cultural que está por vir: seja nas rotinas de trabalho, seja no comportamento ou na forma como pensamos e vemos o mundo.
Certamente muita coisa já mudou em nós e tais mudanças só serão notadas mais à frente. Vale prevenir os efeitos colaterais sempre que possível, conversando com especialistas e psicólogos ou simplesmente implementando o hábito de falar sobre sentimentos. No final das contas os impactos podem ser reduzidos, se agirmos agora. Afinal, nunca é tarde demais quando nós nos unimos para fazer o bem.