Porque adoecemos ao sufocar sentimentos e como a inteligência emocional pode nos ajudar a lidar com emoções
Como você se sente hoje?
Dependendo de como foi o seu dia anterior ou da quantidade de tarefas que virão pela frente, você pode ter respondido que se sente alegre, ansioso, triste, indiferente e muitas outras variações de sentimento.
Mas e se você pudesse dar uma ‘espiadinha’ e ver como cada uma destas ‘formas de sentir’ nascem dentro de você?
Essa é a ideia do filme DivertidaMente da Disney (Pixar).
A animação se passa ‘dentro’ do cérebro da pré-adolescente Riley durante um momento importante de sua vida: quando ela se muda de Minnesota para São Francisco com os pais.
Ao deixar para trás sua casa, seus amigos e seu clube de hóquei, a pequena garota de 11 anos vê seu mundo desmoronar e as emoções dentro de seu cérebro – que é dirigido pelas personagens Alegria,Tristeza, Nojinho, Raiva e Medo -, saem de controle.
No meio da confusão, Alegria, líder do grupo, e sua ‘rival’, Tristeza acabam se perdendo em meio às prateleiras infinitas de memórias de Riley, revivendo situações esquecidas do passado enquanto tentam voltar à sala de controle.
Ok, parei aqui para não dar nenhum spoiler, mas recomendo que assista ao filme (disponível na Netflix) após ler este artigo. 🙂
Mas afinal, o que Divertida Mente nos ensina sobre emoções e sentimentos da vida real?
Eu diria que quase TUDO. Mas se eu pudesse resumir em apenas uma lição seria: precisamos falar de sentimentos.
Precisamos reconhecer que somos seres humanos e que sentimos raiva, alegria, tristeza, nojo, medo e que todos estes sentimentos são naturais e necessários na nossa vida.
Outra coisa que precisamos admitir é que não existe sentimento melhor ou pior.
Não é porque você se sente triste hoje que você será sempre triste, ou não é porque você está alegre que você é uma pessoa feliz para sempre – com certeza você já desconfiou de alguém que é feliz o tempo todo no Facebook. Somos um misto de emoções variadas.
Voltando ao filme, vemos que no início a personagem Alegria tenta sufocar e ignorar a Tristeza, gerando um certo otimismo ingênuo e perigoso.
Por outro lado, vemos que o Medo e o Nojo livram Riley de se meter em problemas e a raiva, com uma dose certa, é um sentimento que representa o senso de injustiça – geralmente nos sentimos com raiva diante de situações com as quais nos indignamos e queremos reagir, nos defender. E por fim, é a Tristeza quem representa o sentimento de perda de Riley e é por meio dela que Riley aprende a atrair seus pais para confortá-la e ajudá-la.
O segredo está justamente em encontrar o equilíbrio de todas essas emoções.
Se somos alegres demais podemos não saber lidar com momentos ruins, se somos tristes demais podemos acabar doentes, se só sentimos raiva podemos nos tornar violentos.
Daí a importância de entendermos a influência de nossos sentimentos e emoções na formação do nosso caráter.
Estudos mostram que nossas identidades são definidas por emoções específicas, que moldam a forma como percebemos o mundo, como nos expressamos e as respostas que evocamos nos outros.
Ou seja, nossos sentimentos nos dizem quem somos e não adianta querermos ‘eliminar’ um sentimento, pois isso só vai intensificá-lo ainda mais.
O que precisamos fazer é reconhecer as emoções e os sentimentos que nos movem – aqueles que fazem parte da nossa identidade – para começarmos a exercitar a nossa inteligência emocional.
É a inteligência emocional que vai nos capacitar a lidar com os sentimentos e a partir disso nos colocar no caminho certo para rumo ao sucesso de nossos relacionamentos pessoais e profissionais.
Parte deste processo de reconhecimento é justamente falar o que sentimos e nos tornarmos pessoas emocionalmente inteligentes.
Palavras são transformadoras e nos ajudam a dar significado aos sentimentos e emoções que estão dentro de nós, pois ‘materializam’ o que sentimos, mesmo quando nem mesmo o nosso rosto é capaz de fazer isso.
Leia também: Precisamos falar sobre nossos sentimentos, urgente!
Aliás, você sabia que é extremamente difícil expressarmos o que sentimos mesmo por meio de nosso rosto?
Paul Ekman, renomado psicólogo e guru das emoções realizou pesquisas sobre o assunto e concluiu que apenas 10% das pessoas entrevistadas conseguiam expressar emoções relacionadas ao prazer movimentando todos os músculos ao redor dos olhos. Este movimento, segundo ele, caracteriza a felicidade muito mais do que apenas o sorriso sozinho.
Ekman que participou inclusive das pesquisas para o filme Divertida Mente e também da série Lie to Me, explica que descobrir como gerar emoções em nós mesmos nos ensina a criar a ‘consciência’ do que sentimos exatamente no momento em que sentimos.
O psicólogo acredita que as emoções evoluem conforme aprendemos a lidar com situações imprevistas como por exemplo, uma colisão de carro.
‘Você toma decisões importantes sem que tenha tempo para pensar nelas. O que significa que às vezes você vai tomar decisões impensadas e que suas emoções não vão se encaixar em certa situação. Muitas vezes você não vai conseguir nem percebê-las, a menos que alguém venha e te diga: ‘o que está chateando você?’, explica Paul.
Por que adoecemos ao ignorar nossos sentimentos?
Ao contrário do que o senso comum diz, as emoções organizam o pensamento racional e nossas vidas sociais. ‘Tradicionalmente, na história do pensamento ocidental, prevalecia a visão de que as emoções são inimigas da racionalidade e perturbadoras das relações sociais cooperativas’, diz Paul Ekman.
Então se não falamos de nossas emoções e não sabemos lidar com elas (não temos inteligência emocional), nos fechamos em nós mesmos e acabamos adoecendo. O nosso corpo e nossa mente, inclusive respondem com sintomas físicos (como úlcera, hipertensão, alergias, asma, estresse, e a longo prazo, câncer), psíquicos (irritabilidade, ansiedade, agressividade, nervosismo) e sociais (queda de desempenho no trabalho, tendência ao isolamento, apatia, conflitos domésticos, etc).
Não é à toa que vivemos em uma época na qual doenças como ansiedade, stress e depressão crescem assustadoramente. O Brasil, por exemplo, é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.
Para se ter uma ideia da gravidade do problema, 5,8% de todos os brasileiros sofrem de depressão e 9,3% da população tem ansiedade – o que leva a transtornos como fobias, obsessões, compulsividade, estresse pós-traumático e ataque do pânico.
A depressão, por exemplo, muitas vezes está ligada a acontecimentos do passado, portanto às memórias que guardamos e emoções que sentimos e que muitas vezes acabamos reprimindo. ‘Estudos científicos mostram que nossas emoções atuais moldam o que lembramos do passado. Esta é uma função vital da Tristeza no filme: ela guia Riley a reconhecer as mudanças pelas quais ela está passando e o que ela perdeu, o que prepara o palco para que ela desenvolva novas facetas de sua identidade’, explica Ekman.
Estamos cada vez mais estressados, ansiosos e agressivos e precisamos falar sobre isso.
Chore, ria, grite, corra, se divirta, se permita sentir. Fale sobre o que você sente (com um amigo ou com um profissional da psicologia), perceba a emoção que toma a sua alma no momento em que ela acontece. E principalmente, aprenda a adquirir inteligência emocional, descubra você mesmo e o que te move.
A Riley descobriu como lidar com seus sentimentos em DivertidaMente. E você? Vai encarar o desafio?
Deixe um comentário em nosso Blog ou acompanhe as novidades dos nossos cursos e workshops no Instagram!