9 em cada 10 profissionais são contratados pelo perfil técnico e demitidos pelo comportamental, segundo levantamento da Page Personnel.
A verdade é que por mais competente que alguém seja, no ambiente profissional não há quem aguente pessoas passionais e explosivas demais. Apesar da emoção ser fundamental para nos ajudar a reagir rápido, ter empatia e construir relacionamentos, o desequilíbrio entre razão e emoção pode nos levar a tomar decisões equivocadas. Isso porque agir rápido, quase nunca significa agir certo. O equilíbrio é a chave, pois, quando estamos agindo puramente pela emoção acabamos sendo manipulados por ela, por outro lado, se agimos apenas pela razão, perdemos a nossa humanidade e a capacidade de entender o outro de forma aprofundada.

“Quanto mais a gente sobe na nossa carreira, menos dependemos das competências técnicas porque nós precisamos produzir resultados por meio de pessoas. E pra produzir esses resultados precisamos de influência: oferecer um ambiente seguro psicologicamente, no qual as pessoas se sintam à vontade para trabalhar e evoluir. Por isso, nos altos cargos de liderança, a inteligência emocional é responsável por 85% dos resultados”, explica Carlos Aldan que trabalha como pesquisador de inteligência emocional há quase 20 anos.
Então, se a inteligência emocional é a integração dos sentimentos e dos pensamentos que nos faz otimizar nossos resultados, as empresas sempre terão duas formas para contratar ou promover alguém:
- Pelo “o quê” ela faz, ou seja, por suas habilidades técnicas
- Pelo “como” ela faz, ou seja, pela forma como ela entrega resultados
O “como” envolve inteligência emocional. Pare para pensar: entregamos resultados trabalhando em equipe ou passando por cima dos outros membros do time? Portanto, não é apenas entregar o resultado em si, mas como chegamos lá.
Saulo Velasco, psicólogo explica que não é um traço de personalidade ou uma característica inata, imutável, com a qual nascemos ou um dom divino. É uma habilidade que pode ser aprendida independente do nosso ponto de partida.

Exercício:
Pense nas seguintes situações e depois escolha qual seria a sua resposta para cada uma delas:
Situação 1:
Você notou que um membro da sua equipe está insatisfeito no trabalho e não para de falar mal da empresa para os colegas. Você já conversou com ele(a) algumas vezes, mas aparentemente ele(a) não muda de postura. O que você faz?
- Dá um ultimato na pessoa bastante incisivo e diz que se essa pessoa não parar que será demitido(a)
- Conversa quantas vezes for necessário até que essa pessoa mude de comportamento
- Fala com seu superior para que ele(a) resolva o problema
Situação 2:
Você trabalha muito para conseguir uma promoção na sua empresa, mas por mais que se esforce, parece que nunca chega a sua vez. Um belo dia você é surpreendido (a) pela promoção de um(a) colega que acabou de chegar na sua equipe. O que você faz?
- Chama seu chefe na hora para tirar satisfação sobre o motivo do(a) colega ter sido promovido e você não
- Parabeniza o(a) colega e observa como ele trabalha para conquistar a sua promoção também
- Pergunta ao seu gestor o que você falta para você ser promovido(a)
Percebe como o nosso cérebro pode reagir de formas diferentes, dependendo da nossa inteligência emocional? A pesquisadora Rita Wu explica que o cérebro é como um computador que responde após receber inputs (estímulos). E esses gatilhos desencadeiam respostas automáticas. Por isso, inteligência emocional não é sobre ter controle ou eliminar emoções, mas sobre encontrar a melhor forma de agir de acordo com cada situação.
“Então, um profissional com inteligência emocional é aquele que é capaz de se adequar bem às diversas situações que exigem perfis emocionais diferentes”, explica Rita Wu.
Se você deseja desenvolver inteligência emocional em você ou na sua equipe, comece com a rotina de mapear os sentimentos envolvidos em cada situação. Depois, faça uma reflexão para chegar à raiz (ou gatilho) do que gerou tal sentimento. E por fim, encontre sua melhor forma de transformar este sentimento ruim em aprendizado ou em algo que possa se tornar bom.
“Agir fora do seu limite de julgamento moral é conseguir ter percepções diferentes e reprogramar essas emoções para se tornarem recursos estratégicos a seu favor ou a favor das pessoas ao seu redor”, diz Carlos Aldan.
Exemplo de mapeamento de inteligência emocional

De forma resumida, tudo aquilo que é possível de se controlar vale o nosso esforço para ser mudado ou melhorado. Aquilo que não está ao nosso alcance não pode comprometer a nossa saúde mental. Precisamos olhar para o macro e não para o micro, se quisermos nos desfazer das preocupações desnecessárias e nos perguntar sempre se a nossa ação ou fala será construtiva ou destrutiva em determinada situação.
Acima de tudo: faça uma auto-observação e entenda as suas manifestações corporais – suor, dores de estômago, entre outros podem ser sinais de como estamos nos sentindo. Quando notar qualquer alteração no seu corpo: silencie, respire, pare e pense antes de responder ou seguir diante da situação que te ameaça. Assim você será capaz de interromper reações em cadeia e agir com inteligência emocional.