Será que as máquinas estão tomando o lugar dos humanos ou vão incentivá-los a aprender profissões mais disruptivas?
O mercado de ensino está preparado para formar profissionais que o mercado de trabalho demanda ou será que as universidades estão formando mão de obra para trabalhos que já morreram?
Estas são algumas questões que a Universidade Autraliana de Deakin levantou durante um interessante estudo chamado “Jobs of the Future”.
A pesquisa, que envolveu um levantamento acadêmico extenso, além de entrevistas com especialistas, reuniu 100 profissões ‘do futuro’ em 11 categorias: Tecnologia, Pessoas, Direito, Negócios, Meio Ambiente, Meio Urbano, Agricultura, Saúde, Dados, Experiência e Espaço.
E sabe o que é mais engraçado? Nem todas as profissões do futuro estão necessariamente ligadas à tecnologia ou algoritmos. Algumas delas são influenciadas por mudanças climáticas, democratização de dados, globalização, pressão populacional, entre outros.
A maioria também exige um conjunto de habilidades multidisciplinares e perspectivas de diferentes domínios, mas de forma resumida, as profissões do futuro, inclusive aquelas que ainda não foram nem inventadas serão movidas por três grandes forças:
1) Automação: máquinas realizando cada vez mais tarefas humanas
2) Globalização: nossa força de trabalho se globalizando e a força de trabalho global chegando até nós
3) Colaboração: muitos empregos, com muitos empregadores, muitas vezes ao mesmo tempo.
Confira os ‘jobs of the future’ da pesquisa (em rosa):
As habilidades do futuro
Apesar do estudo se chamar “Empregos do Futuro”, em uma tradução literal, ele poderia se chamar facilmente “Habilidades do Futuro”.
Isso porque, na verdade, não é que no futuro existirão cargos X ou Y, mas existirão pessoas com habilidades capazes de se relacionar bem tanto com máquinas, quanto com humanos. E, por incrível que pareça, capacidades humanas como comunicação e criatividade tendem a ser mais valorizadas do que nunca.
Se no passado, as pessoas eram definidas pelo cargo, no futuro elas serão definidas e redefinidas pelas habilidades que têm e como elas fazem o marketing dessas habilidades.
A mudança das habilidades de rotina para as não-rotineiras
Um recente relatório australiano enfatizou que a esmagadora maioria dos jovens está matriculada nos campos de estudo que serão radicalmente afetados pela automação durante os próximos 10 a 15 anos.
Além disso, o próprio governo australiano comprovou em 2018 que as indústrias que atualmente detêm o maior número de trabalhadores (agricultura, geração de energia, gás, água e resíduos) sem ensino superior serão as mais atingidas pelo declínio da oferta de emprego no futuro.
Ou seja, no futuro, sobreviverão no mercado de trabalho aqueles que desenvolverem determinadas habilidades que não possuam rotinas substituíveis por máquinas. Algumas delas:
* Confiança
* Comunicação
* Criatividade
* Gerenciamento de projetos
* Entusiasmo pelo aprendizado
* Pensamento crítico
* Trabalho em equipe
* Alfabetização digital
* Alfabetização financeira
* Cidadania global
Trabalhos cuja natureza envolvam habilidades interpessoais, criativas e de informação poderão aumentar para quase 70% até 2030.
Outra pesquisa (britânica) descobriu que “Empregos com salários inferiores a £ 30.000 por ano são quase cinco vezes mais propensos de se perder para a automação do que empregos com salários superiores a 100.000 libras por ano”.
Empreendedorismo como um estilo de vida
Ainda falando nas ‘habilidades de ouro’, algumas delas estão presentes na mentalidade empreendedora: adaptabilidade, resiliência, flutuabilidade e capacidades empreendedoras.
Embora empreendedor possa significar coisas muito diferentes para pessoas diferentes, costuma-se dizer que “o trabalho do futuro” precisará ser mais autônomo e auto-gerenciado, trabalhando em tarefas de forma independente, com menos supervisão e apoio dos gerentes ou supervisores.
Muito mais pessoas trabalharão externamente, de casa ou de um escritório remoto. Os jovens de hoje precisarão gerenciar mais seu próprio tempo, fazer mais decisões sobre prioridade e importância das tarefas e serem mais automotivados.
Freelancers
88% dos profissionais freelancers disseram preferir continuar trabalhando como freelancers mesmo que lhes fosse oferecida uma carreira tradicional em tempo integral, graças à flexibilidade de poder trabalhar sob demanda, independente de não terem benefícios.
Aliás, as empresas de hoje vivem uma verdadeira corrida pela criação de benefícios que consigam suprir essa necessidade por flexibilidade, seja oferecendo trabalhos remotos e incentivos diversos para que os trabalhadores tenham uma vida ‘fora do escritório’. Mesmo assim, a média de permanência no mesmo emprego fixo é de apenas 3,3 anos.
STEM, STEAM e digital skills
45% dos empregadores querem aumentar sua equipe qualificada em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português), nos próximos 5 a 10 anos.
Outros especialistas prevêem que os trabalhadores precisarão usar as habilidades de pensamento adquiridas na educação STEM em todas as funções futuras. O estudo mostra que profissionais usarão as habilidades de matemática e ciências em média 9 horas por semana e tecnologia avançada habilidades por 7 horas por semana.
Outros acreditam que assim como as capacidades das máquinas se expandem, no futuro, os jovens precisarão de menos educação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática e poderão ter mais tempo para focar em habilidades como design thinking, empreendedorismo e criatividade para se prepararem para carreiras empreendedoras.
Resolvedores de problemas
Pensamento crítico e capacidade para resolver problemas também são habilidades que fatalmente terão lugar no futuro. Originalidade e fluência de ideias, estratégias para aprendizado e aprendizado ativo – capacidade de definir objetivos, fazer perguntas relevantes, obter feedbacks e aplicar conhecimento de maneira pró-ativa – também são considerados importantes para o futuro.
Observando as habilidades exigidas nos anúncios de emprego, a pesquisa mostrou que “a proporção de empregos que exigem pensamento crítico aumentou 158%, enquanto a busca por profissionais com habilidades de criatividade cresceu 65%, habilidades de apresentação teve um salto de 25% e trabalho em equipe, 19%.
Habilidades interpessoais
As habilidades interpessoais continuam sendo uma clara vantagem humana sobre as máquinas. Uma pesquisa da Frey e Osborne salientou que muitos empregos têm potencial de serem feitos por máquinas, no entanto, não estamos falando de uma questão simplesmente de realizar uma tarefa específica, mas também da nossa disposição de escolher um robô ao invés de um humano.
Por exemplo, você consultaria um médico robô, mesmo que ele tivesse comprovadamente uma taxa de sucesso perfeita? Estas são perguntas que ainda são complicadas de responder.
A tendência é que optemos por escolher uma pessoa quando sentirmos necessidade de confiança e amparo na emoção humana natural, enquanto podemos escolher os robôs sempre que sentirmos que o julgamento de uma máquina pode ser mais eficaz. Ou seja, quando um algoritmo comprovadamente seja capaz de fazer um trabalho melhor que um humano.
Mas é fato que habilidades mais complexas vão sempre requer pensamento inovador e adaptabilidade, dada as necessidades do contexto. Estas serão muito valorizadas na próxima década. Enquanto isso, estima-se que automatizar tarefas rotineiras melhorará satisfação no trabalho por 62% dos trabalhadores pouco qualificados.
Não é pra menos que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que o mercado de trabalho se torna uma experiência muito mais gratificante com as habilidades pessoais, como a capacidade de se comunicar, trabalhar em equipes, liderar, resolver problemas e se auto-organizar.
Criatividade
Criatividade também é uma habilidade difícil de um computador alcançar. É porque a criatividade, por definição, produz algo que é novo, e, portanto, estamos falando de tarefas que não podem ser totalmente pré-determinadas no código de forma clara.
Nesse sentido, um resultado criativo verdadeiro é aquele que só pode ser reconhecido no final do processo – os computadores são baseados em regras e a criatividade pode ser definida como o oposto disso.
Um relatório do Fórum Econômico Mundial de 2016 estima que até agora mais de um terço das habilidades consideradas importantes hoje não são mais relevantes. Entre elas. criatividade e inteligência emocional estarão entre os três principais necessários.
Aprendizado contínuo
Apesar de termos poucas certezas sobre o futuro, é certo que as pessoas precisarão treinar e desenvolver suas habilidades ao longo de suas vidas profissionais para continuarem empregadas. A adaptabilidade e reciclagem provavelmente se tornarão habilidades essenciais que os empregadores procurarão em seus funcionários.
Outras conclusões do estudo:
1. As profissões chamadas STEM, ligadas às áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática terão mais demanda, porém um diploma por si só não garante empregos.
2. Funções como administração e vendas tendem a desaparecer, enquanto as profissões técnicas e serviços pessoais caracterizados pelos altos níveis de originalidade e criatividade tendem a permanecer.
3. Pessoas não qualificadas tendem a abandonar a escola cedo. E não é a toa que o ‘emprego do futuro’ exija aprendizado contínuo.
4. As empresas que deterão os ‘empregos do futuro’ não precisarão de grande número de trabalhadores com um conjunto fixo de habilidades – a maioria das coisas que podemos treinar um grande número de trabalhadores, nós também podemos treinar computadores para fazer melhor.
5. O trabalho do futuro será aquele que conseguirá estabelecer a colaboração entre as pessoas e máquinas para fazer o que nenhum dos dois poderia fazer sozinho.
6. O fato de que os trabalhos podem ser substituídos por máquinas não significa automaticamente que serão.
7. Segundo estimativas do Fórum Econômico Mundial até 65% das crianças que entram hoje a escola primária provavelmente trabalhará em empregos que ainda não foram criados.
8. Alguns economistas mostraram que, enquanto a mudança estrutural vem ocorrendo nos tipos de habilidades necessárias no local de trabalho, isso não reduziu níveis de emprego. ‘Na nova economia de trabalho, tecnologias não reduziram a demanda por mão-de-obra.’
9. Os empregos do futuro serão muito mais dinâmicos, interessantes e gratificantes.
10. O futuro tende a nos oferecer mais meios de ter vidas melhores e saudáveis, comunidades aperfeiçoadas e muito mais espaço aberto em empregos que nos incentivem a ser mais humanos e eliminar os tipos de trabalho que podem ser assumidos pelas máquinas.
11. Os empregos do futuro provavelmente serão ocupados por profissionais multidisciplinares: pessoas com conhecimento profundo de uma área, terão conhecimentos complementares para apoiar equipes interdisciplinares. Entender o significado dos dados e as necessidades deles será essencial.
E aí? Qual sua opinião sobre o ‘trabalho do futuro’? Deixe seu comentário aqui 🙂