As cenas da retroescavadeira abrindo sepulturas para as vítimas do novo coronavírus no cemitério da Vila Formosa em São Paulo chocam e ao mesmo tempo nos fazem refletir sobre a transitoriedade da vida.
A despedida prematura de amigos e familiares, o medo da contaminação e a ansiedade por não saber quando tudo irá acabar nos tornam mais vulneráveis diante desta catástrofe mundial.
A finitude da vida ganhou um significado muito maior.
Apesar dos avanços da ciência e da tecnologia e de todo o esforço global em conter o vírus, nós realmente não estávamos preparados para essa devastação mental.
Se antes a humanidade temia a morte, agora ela se dobra diante de sua impotência de não poder controlar os efeitos da separação física e psicológica.
Em uma entrevista ao El País, Carmen Soria, psicóloga sanitária e diretora da clínica Integra Terapia em Madri afirma que a pandemia nos ajudará a aprender a manter relacionamentos mesmo à distância e tornar isso algo positivo. “Teremos aprendido descartar quem não tem de estar em nossa vida, teremos assumido o quão vulneráveis podemos ser à mudança de hábitos e teremos ampliado nosso lazer doméstico”, disse.
Em seu artigo no The Guardian, Yuval Noah Harari levanta a questão: a pandemia atual mudará as atitudes humanas em relação à morte?
Harari é perspicaz quando fala que, enquanto a humanidade como um todo se torna cada vez mais poderosa, as pessoas ainda precisam enfrentar sua fragilidade, mesmo que a descoberta da vacina seja uma questão de tempo.
Aliás, Harari enfatiza que, no futuro, a humanidade terá todas as ferramentas necessárias para conter a Covid-19 e que os médicos saberão resolver este enigma.
Eles podem ganhar mais tempo para lidar com esta doença, mas o que fazemos com esse tempo, depende de nós.
A pergunta que fica para nós, hoje, é justamente essa: o que estamos fazendo com o tempo precioso que temos?
Será que estamos aproveitando cada momento para construir uma vida que valha a pena ou desperdiçando este tempo com distrações irrelevantes para o nosso propósito?
Estas são perguntas fundamentais se quisermos entender o significado verdadeiro de finitude.
Com atitudes simples incorporadas ao nosso dia a dia somos capazes de viver momentos com mais consciência, entre eles, o próprio luto.
Vivenciar o luto, cumprir os ritos, é uma premissa indispensável para que o ser humano consiga seguir em frente.
Neste interessante artigo da Carta Capital há algumas reflexões interessantes sobre este duro processo de luto em tempos em que não se pode sequer colocar uma roupa no falecido, nem velar, nem ver e nem receber um abraço.
Não temos a resposta ainda para o que virá pela frente, mas sabemos que precisamos redobrar os cuidados com a saúde da nossa mente e das pessoas que nos cercam.
Pelo bem da humanidade, o esforço coletivo e a empatia surgirão como as armas mais eficientes para a nossa sobrevivência.