Raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento. Estas são algumas das emoções cotidianas relatadas por brasileiros durante a pandemia, segundo a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, divulgada pela FGV Social.
Alguns destes sentimentos já despertam a preocupação dos especialistas em saúde mental. Por exemplo, a sensação de raiva dos brasileiros subiu de 19% em 2019 para 24% em 2020 – um aumento de 5 pontos de porcentagem. Enquanto no resto do mundo, este avanço foi de 0,8% pontos percentuais. Ou seja, a raiva aumentou 4,2 pontos percentuais a mais no Brasil durante a pandemia que nos demais países.

Mas a pergunta que não quer calar: por que isso acontece? Por que somos tão infelizes aqui?
Parte da resposta pode estar ligada ao trabalho. Sim, o trabalho é uma das principais causas de infelicidade no nosso país.
Um levantamento da International Stress Management Association (Isma Brasil) apontou que 72% dos entrevistados estão insatisfeitos com o trabalho e nada menos do que 92% dos brasileiros desejavam mudar de emprego em 2021, segundo a Catho.
Segundo uma pesquisa do Instituto FSB, feita a pedido da companhia seguradora SulAmérica e divulgada no mês passado, 62% das brasileiras afirmam que a saúde emocional piorou ou piorou muito durante a pandemia. Entre os homens, o índice dos que se disseram mais abalados com a experiência é de 43%.
O burnout, síndrome do esgotamento mental, já figura entre os termos mais pesquisados no Google em 2021, e a partir deste mês já estará listado na 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), espécie de glossário que atribui códigos às mais
diversas enfermidades.
Motivos para a insatisfação no trabalho
Para 89% das pessoas a questão é o reconhecimento, em 78% dos casos é o excesso de tarefas e aumento da carga de trabalho (agravado, principalmente pelo home office) e para 63%, a infelicidade está relacionada a problemas de relacionamento.
Outro levantamento mostrou que mais de 80% dos funcionários CLT estão endividados e 81% admitiram sofrer algum tipo de consequência na saúde por conta disso. De forma geral, o bem-estar trabalhista no 1º trimestre de 2020 ficou estagnado em torno de R$ 400. No ano seguinte da pandemia o bem estar caiu 19,4%, que representa o novo piso da série histórica em R$ 324, conforme o gráfico abaixo:

Pobres perderam mais
A situação é mais preocupante para quem a população mais velha e sem trabalho, cuja média de bem-estar social caiu 10,89% entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021.
Na metade mais pobre observamos importância similar do efeito desocupação explicando mais de 80% da queda de renda de 20,89% deste grupo. O efeito desemprego domina com 8.95 pontos de porcentagem e a redução da participação no mercado de trabalho contribui com 7,89 pontos de porcentagem. Em suma, a perda de ocupação (desemprego e participação trabalhista)
foi o principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros.

Consequências da infelicidade
Outra pesquisa recente apontou que seis em cada dez brasileiros estão sobrecarregados no trabalho. Ao mesmo tempo, 44% sofrem com insônia e 61% se queixam de exaustão. Outras consequências são preocupantes também como a ansiedade que, em níveis mais altos pode resultar em sofrimento psicológico, irritabilidade, dificuldade de concentração, entre outros sintomas.
Pesquisas demonstraram que o burnout possui uma correlação com sintomas de ansiedade. Uma meta-análise (Maske et al. 2016) identificou que 59% dos indivíduos com diagnóstico de burnout também foram diagnosticados com transtorno de ansiedade.
